Formigas e Facebook

Hoje eu estou inquieto, estou frustrado com algo que não sei exatamente o que é, talvez esteja frustrado comigo mesmo, não sei, que se dane. O Facebook tem me deixado muito depressivo, sabe, não é tão explícito que o mesmo se trata de um site de vendas? Sim, um site de vendas, você não achava que o Facebook se tratava de uma rede social achava? Abra esses malditos olhos, as pessoas estão colocando a si mesmas em exposição, alimentando o próprio ego e colocando-o à venda. A superficialidade do mundo me deixa cada vez mais enojado, a maneira como as pessoas não se dão valor, a maneira que ignoram e desdenham qualquer coisa que seja diferente. Os loucos agora são os normais e os normais agora são loucos.
Estou triste, percebi o quanto eu era feliz antigamente, as postagens que fazia, quando minha mãe era participativa nas mesmas e perdíamos alguns minutos das nossas vidas brincando um com o outro nas postagens, tudo isso se foi… E mesmo que essas pequenas coisas não signifiquem nada para o espaço tempo, mesmo que as mesmas sejam insignificantes para toda a existência, é algo que faz falta, é algo que somente eu poderia dar valor…
É triste… As pessoas registram e compartilham os momentos felizes de suas vidas, não para demonstrarem como estão contentes, menos ainda para compartilharem felicidade, mas para fazerem com que elas mesmas acreditem que são felizes. O que é a felicidade? Como você define a felicidade? E o que isso tem a ver com o churras na laje do meu primo?
É tudo culpa do ser humano, o mais animal dos animais, tudo deu-se como perdição a partir do momento em que algum mentecapto protótipo de ser humano resolveu dizer ao mundo que o homem possui um objetivo na vida e que a vida tem um significado, a partir do momento em que a sociedade se iniciou, a padronização social, as vãs colônias de seres humanos  criadas, somos formigas, trabalhando até a morte, para o bem da colônia, para o bem da rainha, e que rainha? Onde ela esteve todo esse tempo? Um dia irei conhecê-la? Claro que não, ela nunca realmente existiu.
Apresento-lhes o problema do mundo: O homem. Apresento-lhes agora, o problema do homem: O mundo. Não é irônico? Ambos nunca irão coexistir em paz, não como as formigas.

Uma situação engraçada:

Já imaginou se as formigas tivessem Facebook?
Uma delas posta uma foto com o seu monte de grãos de açúcar dizendo:
– Eis aqui o fruto do trabalho duro!
Então minutos após a postagem, a formiga é pisoteada por um humano que nem sequer sabia da existência da mesma. Esse meus amigos é o fruto do trabalho duro, uma pisoteada.
Mas quem ou o que poderia nos pisotear? Vocês me perguntam… O que mais seria se não o tempo e a vida, esses cúmplices do maior crime do mundo, a existência… Ambas indescritíveis, intangíveis às explicações e inigualavelmente misteriosas?
E quem sou eu para dizer-lhes que essa é a verdade? Eu, o hipócrita, a formiga…

Esse meu “Eu” temporário ou eterno

Pois bem, é triste, realmente triste que essa seja a verdade, mas é isso, esse é o meu novo eu… Aquelas coisas bobas que guardamos naquele pequeno baú trancado por sete ou mais cadeados, os sentimentos… Pois bem, eu o destranquei, deixei aberto… E tudo se esvaiu em fumaça, como sempre. Eu não sou mais capaz de sentir sentimento algum por alguém, eu me tornei um mecanismo eletrônico, programado para sobreviver, uma máquina… Estar morto por dentro me faz estar mais vivo por fora… Eu costumava dizer que aceitava a morte, que minha falta de preocupação com a minha própria vida, com minha falta de medo,  acabava por forjar minha falsa coragem. Isso não mudou, a única mudança que me ocorreu, é essa… A  de aceitar a vida, como aceitei a morte, algo ruim, porém necessário, baseado em nenhum fundamento lógico.
O quão superficial eu me tornei e ainda irei me tornar para ser ilusoriamente feliz? Foi o que pensei ontem a noite, enquanto massageava o clitóris de uma amiga, sei que esse comentário soa desnecessário, mas não, ele não é… Não quando em um momento desses a única coisa que me vinha em mente era o questionamento, eu não estava lá… Apesar de tudo, foi um dia feliz, não é? Não sei.
O que é felicidade? Como sei que estou realmente feliz? Esses sentimentos que fugiram, provavelmente para um homem mais forte, mais rico e mais bonito do que eu… Eles realmente estiveram em meu corpo por todo esse tempo?
Eu supri uma necessidade, eu satisfiz um desejo apenas, não era felicidade, era satisfação, e para ela também, não passava disso, a questão é… Por que eu tenho consciência dessa morte interior? Por que para ela, aquilo é vida? E o que me garante que talvez ela seja apenas isso?
Só existe uma resposta: “Nenhuma das perguntas anteriores jamais serão respondidas, assim como as próximas.” Eu posso apenas afirmar algo, esse meu novo eu, talvez nem novo, talvez um velho e escuso “Eu” dentro de mim, ele aceita a ilusão, a superficialidade das coisas, a ignorância e a frieza… E muito provavelmente, esta ilusão que vivo, algum dia se torne realidade, para que assim, a minha vida vazia, pareça cheia e significante pelo menos para um único ser desse mundo, eu.

Somos todos cachorros

Eu achei que fosse uma pessoa forte… Eu fui… Não fisicamente, claro, não esta vareta que anda e fala que eu sou. Mas eu não tenho mais tanta certeza quanto a isso, não minha estatura física, minha força interior.
Tem sido péssimo, horrível e está tão ruim que nem mesmo tenho paciência para buscar por outros sinônimos para dar ênfase nisso.

Uma coisa na qual estive pensando:
Na vida nós somos aquele cachorro correndo atrás do carro na rua, corremos sem nenhum motivo, continuamos correndo achando que vamos conquistar algo quando alcança-lo, traçamos esse simples objetivo e nos empenhamos nele e assim como o cão, não sabemos o que fazer assim que o atingimos. Não fica claro que faria mais sentido ficar em casa, comendo sua ração, dormindo em sua casinha de madeira? Não se você for um humano, seria no mínimo estranho. O que tinha de tão especial naquele carro? Ele tinha tração nas quatro rodas? Quem diabos estava dirigindo aquela merda? E qual é a moral da história?
Bem, não corra atrás de carros e arrume um emprego.

Eu já disse que estou péssimo?
Antes eu chorava de dez em dez minutos, agora eu penso em suicídio. Não é tão ruim assim, eu poderia estar pensando em ir socializar em uma festa, ficar bêbado e terminar a noite com uma garrafa de cachaça em minha mão direita e uma mulher com cinquenta vezes o meu peso na esquerda. Não estou tão mal assim… Bem… Acho que é isso, só não queria deixar o dia passar sem ter escrito um desses textos que tenho escrito ultimamente. Vou me banhar daqui a pouco, talvez eu tente me afogar no banheiro, quem sabe? Bem, se esse for o caso só tenho certeza de uma única coisa, estarei cheiroso em meu velório.

Festas

Tire-me daqui eu não quero conversar,
essas pessoas não estão felizes e eu não quero dançar,
sorrisos…
Sorrisos falsos preenchem este pequeno lugar,
por que todos estão sorrindo mesmo sabendo que isso jamais irá ajudar?

Essa é a verdade,
todos aqui queriam estar mortos,
implorando a liberdade,
de suas almas presas em seus corpos.

E nessa reunião superficial,
se tirarmos tudo o que não presta,
eu te digo o que me resta,
tendências suicidas em sua festa,
tendências suicidas em sua festa.

E todos vocês choram em meus ombros cansados,
e fingem não sentir a tristeza,
entre abraços atrasados,
e o altruísmo… Minha fraqueza.

Eu sei o segredo de cada um neste lugar,
sei os motivos e até frases que poderiam fazê-los chorar,
sei que estão todos infelizes ao dançar,
o que querem fingir com isso?
Quem vocês pretendem enganar?

E nessa reunião superficial,
se tirarmos tudo o que não presta,
eu te digo o que me resta,
tendências suicidas em sua festa,
tendências suicidas em sua festa.

Pois todos sabemos que iremos morrer,
e que quem realmente amou um dia… Só consegue triste ser,
e que somos todos suicidas,
e que nunca  realmente iremos viver,
e que estamos vazios e sozinhos,
e que ninguém mais irá nos preencher.

E você comprou um novo carro?
E você viu aquele novo tênis?
E você não vai comprar?
Vamos dançar?
E o quão superficialmente terei de agir para te convencer que não irei morrer hoje?
E quantos sorrisos falsos terei de colocar em meu rosto para você achar que está tudo bem?
E por que só eu sei que você sente isso também?
E por que a morte não vem?
E nessa reunião superficial…
E se tirarmos tudo o que não presta?
Você quer saber o que resta?
Tendências suicidas em sua festa,
tendências suicidas em sua festa.

Velhinhos nos espelhos

Estou sentado na velha cadeira, olhando o monitor, ao meu lado direito um celular, recebendo mensagens de pessoas que não amo, um pouco mais ao lado um espelho, velho, sujo, e com um jovem triste lá dentro, o tempo não foi bondoso com ele, me referindo ao espelho é claro, volta e meia eu fico olhando seu reflexo, ver meu rosto se misturando com as marcas do mesmo, me sinto velho quando faço isso, a sujeira transfigura-se em meu rosto, formando algo parecido com marcas de expressões, fico me perguntando se eu terminaria minha vida sozinho e triste, a tristeza é claro, crucial, maldita… Ela sim é importante em nossas vidas, e o que mais é importante em nossas vidas? Além das lágrimas que derramamos por lembranças ruins, por lembranças boas, como um beijo, um abraço, uma frase dita naquela noite quase esquecida, um sorriso, um olhar, um entrelaçar de dedos ou uma costela de porco no capricho?
Olhar-me no espelho com essa aparência de velho… Faz-me pensar em algo que estava pensando recentemente, a beleza e a relatividade dela perante o tempo… É curioso, quando somos apenas crianças ingênuas, na maioria dos casos nos “apaixonamos” pela garotinha do rosto bonito na quarta carteira da quinta fileira da sala de aula, quando adolescentes nós focamos mais na beleza corporal, como o daquela garota de outra cidade viciada em cocaína, por fim quando nos tornamos jovens adultos e daí para frente, nos apaixonamos pela personalidade… Ah… A personalidade. Isso me faz pensar que a vida toda eu fui um velhinho de quase setenta anos, sempre foi personalidade em primeiro lugar para mim… Isso me remete ao amor, amor… A coisa bela mais terrível que pode acontecer com você, não literalmente, claro, não podemos descartar atropelamentos, doenças venéreas, casamentos etc…
Como será que vou ficar quando estiver velho? Eu terei mais crises existenciais? Eu serei mais triste? Mais feliz? Mais bondoso? Eu vou ter que usar suspensórios? Por Deus, isso não. Acho que serei um bom velhinho, o velho poeta solitário da vila prado. Eu faria algumas caminhadas matinais, me sentaria no velho banco da praça, ficaria observando os pássaros, as pessoas, os carros, jogaria pedaços de pão para os pombos, pegaria minha velha caneta tão quão meu velho caderninho, escreveria um poema, rodeado pelas aves… Eu espero que essa praça ainda exista até lá.

Um pensamento para uma boa cena:
Sento-me no velho banco, eu com meus setenta e cinco anos, uma pomba vem até mim e diz:
– Uma migalha de pão para uma pobre ave…
Olho para a pequena ave e digo:
– Não me lembrava de que os pombos sabiam falar…
O pombo se a próxima:
– Não são só os humanos que evoluem, tudo evolui com o tempo, está nas regras da natureza, o que você é hoje, não será mais da metade do que você pode ser amanhã…
Eu abro a cesta, rasgo um grande pedaço de pão, jogo para o pombo, observo ele saciando sua vontade, grato pela comida, muito merecida, o mesmo se desfaz entre as nuvens ao voar para o além, “ O que você é hoje, não será mais da metade do que você pode ser amanhã.” Fico pensando nessa frase por alguns minutos, o fato do pombo ter evoluído a esse ponto, então olho ao meu velho relógio, a epifania chega no seu ápice, vejo a verdade em meus olhos, olho para o céu alaranjado daquela tarde e grito:
– Por Deus!! Esqueci de tomar meus remédios hoje!

Uma reunião comigo mesmo…

Eu já não sei o que sou muito menos o que irei me tornar, os dias cantam lá fora com uma harmonização sublime, porém melancólica, em um ritmo que já não posso acompanhar… Ouvi vozes lá fora, eles parecem felizes, soltam sorrisos, é acolhedor…
Preciso fazer uma reunião, uma reunião comigo mesmo e organizar toda essa confusão dentro de mim, mas estou dividido em mim mesmo, perdido em pedaços, em versões incompletas de mim, essas tais que não se falam, não se olham, não trabalham em equipe, tristes e mortas.
Mas seria como tentar desamassar um papel , continuaria sendo útil, poderia escrever no mesmo, mas não seria a mesma coisa… O que eu sou? O que nós somos?
Talvez nós sejamos isso mesmo, apenas isso, uma junção de fragmentos perdidos dentro de nós mesmos tentando ser algo, mas quantas vezes vou me partir em fragmentos? Quantas vezes terei que me remontar? Será que um dia realmente seremos algo? Nós humanos, fragmentados?
Logo estarei completo, com o amor, o pânico e a sabedoria, voltarei a ser aquilo que um dia me atrevi a ser, aquilo que costumava ser, voltar a ser poeta, músico, ilustrador… Artista. Pois a vida é esse círculo construído por situações, esse círculo infinito que eu manipulo, que será cortado em fim por mim, eu que decreto à mim mesmo o direito de ser, o direito de estar e o direito de fazer, porque se não eu mesmo à faze-lo, não seria, não estaria, não faria, não decretaria, não à mim mesmo… Nem soluções eu buscaria se ao menos fizesse um dia… Uma reunião comigo mesmo.

Cigarros pensantes

A vida é um homem fumante, eu sou aquele velho cigarro… Ele não sabe por que fuma, apenas precisa de mais e mais, existe algo prazeroso no ato de me consumir para ele, algo que não possa ser explicado.
   Às vezes ele irá tragar mais forte, te consumir muito mais e eventualmente te dará uma brecha enquanto respira… Um momento para a vida respirar…  Chegará um momento em que o cigarro irá acabar, a vida ficará frustrada, enfurecida, com abstinência, entrará em pânico e morrerá.
  Mas não se trata de quanto você durou, de fato esse homem irá te consumir por inteiro de qualquer modo, mas cada homem tem seu próprio tempo, logo uns irão mais rapidamente do que outros , mas isso não importa, o que importa é o que você ofereceu à vida de tragos em tragos. Eu ofereci canções, eu ofereci melodias, eu ofereci desenhos e pinturas, eu ofereci poesia… E continuarei, enquanto a vida faz cinzas de mim…

Um sonho possível

– Você não tem ilusões, você não tem sonhos Cauã, você não pensa em comprar um bom carro ou uma boa moto, não dá para te entender, uma pessoa sem ambições não tem motivo para viver e parece que você não liga para isso.
Sim é exatamente isso que você está pensando meu caro leitor, é mais um daqueles textos onde criticam o protagonista e o mesmo elabora uma bela resposta da qual é apresentada ao leitor, onde apenas o leitor e o personagem sabem sobre a resposta, fazendo assim o leitor criar laços com o protagonista, eu confesso, comigo não foi diferente… Pensei:
“ Pai, eu tenho vários sonhos, mas eles não são evidentes, o que é realmente triste, pois apenas as pessoas que me conhecem bem sabem sobre minhas ilusões… E tudo isso é desnecessário, são valores nulos, nada disso me importa, nenhum possante nem a moto do ano, são valores nulos… As pessoas dão valor para as coisas erradas, elas se afundam em uma padronização social e se afogam com o próprio ego, eu não preciso de uma moto boa, apenas uma que me leve ao meu objetivo, o resto é descartável, tudo é descartável pai. É incrível como ninguém percebe, estamos nos tornando animais, todos pensam que estamos acima deles, mas estamos muito abaixo, um animal vive com o que é necessário, ele vive com aquilo que precisa, o que é muito pouco. Olhe para nós, nós criamos luxos, nós criamos nosso habitat natural, que é nessa monotonia que vivemos, se sacrificar por pedaços de papel para poder comprar coisas que não precisamos, para competir com outros da mesma espécie, pelo simples prazer de dizer: “Eu sou melhor.’’ Não é você que não me entende pai, sou eu que não entendo todos vocês, todos nós, nós não evoluímos, regredimos, deixamos de andar de quatro patas para andar com os dois pés, mas andamos em uma estrada de espinhos e estamos descalços, porque queremos, eu tenho um sonho, um sonho de que um dia todos parem de dar valores para as coisas, que um dia as pessoas parem de competir umas com as outras, pois ambas estão caminhando pela mesma estrada, quero que um dia todos entendam isso mas sei que é um sonho impossível, mas me contento encontrando alguém que me entenda e entenda tudo isso comigo e quando encontrar esse alguém, estarei caminhando nos espinhos, com esse alguém nas minhas costas e esse é um sonho possível pai.’’
Eu poderia ter dito isso tudo, não disse, guardei tudo isso para mim e também para quem quer que esteja lendo isso.