Era uma noite úmida,
as luzes refletiam-se no asfalto,
quatro,
cinco,
seis cervejas,
sozinho,
caminhando sem destino,
passava por casas e casas,
vejo pessoas sentadas em bancos de plástico,
elas esperam por algo,
noite pós noite,
um gato passa ao meu lado,
crianças jogando jogos em seus quartos,
era uma primavera manchada,
pelos rastros de putas e mendigos nas ruas,
e a rua mesmo sem voz gritava por socorro,
implorava por um dia sem sujeira,
grande merda,
jogo injusto,
sem conversa.
Vejo um bar aberto,
rostos tristes,
bêbados,
entre eles,
doutores,
engenheiros,
vendedores,
vagabundos,
e um poeta,
o dinheiro escorrega de minhas mãos,
sete garrafas,
nenhum vinho barato,
apenas cerveja,
um homem chora pela sua mulher,
dois começam a discutir,
o balcão molhado pelas garrafas,
aquilo os entregava,
havia muito álcool naquela conversa,
meus olhos se fecham,
alguém me empurra,
um corte no braço,
isso nunca significou algo para um suicida,
e lá estava,
eu,
como as putas e os mendigos,
drogados e traficantes,
manchando as ruas com cerveja e sangue,
sangue e cerveja…
E o que é a vida,
se não um corpo fraco e embriagado sangrando em uma sarjeta?
As cortinas se fecham…
Abrem espaço para um breve silêncio…
Aplausos.