Um bar qualquer em São Carlos

Era uma noite úmida,
as luzes refletiam-se no asfalto,
quatro,
cinco,
seis cervejas,
sozinho,
caminhando sem destino,
passava por casas e casas,
vejo pessoas sentadas em bancos de plástico,
elas esperam por algo,
noite pós noite,
um gato passa ao meu lado,
crianças jogando jogos em seus quartos,
era uma primavera manchada,
pelos rastros de putas e mendigos nas ruas,
e a rua mesmo sem voz gritava por socorro,
implorava por um dia sem sujeira,
grande merda,
jogo injusto,
sem conversa.

Vejo um bar aberto,
rostos tristes,
bêbados,
entre eles,
doutores,
engenheiros,
vendedores,
vagabundos,
e um poeta,
o dinheiro escorrega de minhas mãos,
sete garrafas,
nenhum vinho barato,
apenas cerveja,
um homem chora pela sua mulher,
dois começam a discutir,
o balcão molhado pelas garrafas,
aquilo os entregava,
havia muito álcool naquela conversa,
meus olhos se fecham,
alguém me empurra,
um corte no braço,
isso nunca significou algo para um suicida,
e lá estava,
eu,
como as putas e os mendigos,
drogados e traficantes,
manchando as ruas com cerveja e sangue,
sangue e cerveja…
E o que é a vida,
se não um corpo fraco e embriagado  sangrando em uma sarjeta?
As cortinas se fecham…
Abrem espaço para um breve silêncio…
Aplausos.

O achocolatado

Eu fiz isso novamente, tentei me matar hoje. Duas lâminas, um banheiro vazio, literalmente, mesmo comigo em seu interior, as luzes apagadas, o sol em meu rosto, em meu corpo… Me contornava, um contraste digno de uma fotografia, ou uma cena trágica de um filme qualquer.
Direcionei a lâmina até meu pulso esquerdo, não o faria no direito, gastei 140 reais em minha tatuagem, que desperdício seria… Se bem que eu iria morrer… Qual é a relatividade dos valores entre vida e morte? Não sei. Engraçado, não fiz nenhum corte, comecei a me lembrar dos bons momentos da minha vida, mesmo que poucos, foram o suficiente para que eu me perdesse dentro de mim, para que eu esquecesse dessa ideia maluca.
Abri a porta  do banheiro, caminhei até a cozinha, preparei um copo de leite com Toddy, eu nunca acerto a quantidade certa de achocolatado , sempre acabo em um dos extremos, muito chocolate ou pouco chocolate, de qualquer maneira eu já não sinto gosto de nada, tudo parece transparente, opaco, vazio…  É engraçado como um copo de leite me resume… Nunca na medida certa, sempre nos extremos, considerando o chocolate a felicidade, tristeza extrema ou felicidade extrema… Um chocólatra escreveria algo parecido… Não, eu não sou um chocólatra.
Dei o último gole em meu leite mal feito, fiquei observando o copo vazio,  com pequenos grãos de chocolate remanescentes, exatamente como eu, pequenas chamas de felicidade e esperança, esperança de que o mundo não seja esse imenso vazio, que não seja essa esfera gigante formada por superficialidade e hipocrisia, flutuando no universo… Esperança de que o vazio do mundo não seja equivalente ao vazio que sinto… Esperança… Esperança perdida nesta tarde por alguns instantes.
Fiquei ali sentado, por longos minutos que pareceram horas… Chorei.

Esmeril

As lâminas que cortam meus pulsos esta noite,
são as mesmas que afiastes com o mais eficaz esmeril do mundo,
o tempo.
E o sangue derramado no chão,
este bombeado ferozmente perante minha inevitável morte,
por perceber que será nula a possibilidade de sentir o mais belo dos sentimentos,
o sublime e agoniante amor,
agora colore o mundo,
em um matiz indistinguível…
Vago como o mundo.

Esse meu “Eu” temporário ou eterno

Pois bem, é triste, realmente triste que essa seja a verdade, mas é isso, esse é o meu novo eu… Aquelas coisas bobas que guardamos naquele pequeno baú trancado por sete ou mais cadeados, os sentimentos… Pois bem, eu o destranquei, deixei aberto… E tudo se esvaiu em fumaça, como sempre. Eu não sou mais capaz de sentir sentimento algum por alguém, eu me tornei um mecanismo eletrônico, programado para sobreviver, uma máquina… Estar morto por dentro me faz estar mais vivo por fora… Eu costumava dizer que aceitava a morte, que minha falta de preocupação com a minha própria vida, com minha falta de medo,  acabava por forjar minha falsa coragem. Isso não mudou, a única mudança que me ocorreu, é essa… A  de aceitar a vida, como aceitei a morte, algo ruim, porém necessário, baseado em nenhum fundamento lógico.
O quão superficial eu me tornei e ainda irei me tornar para ser ilusoriamente feliz? Foi o que pensei ontem a noite, enquanto massageava o clitóris de uma amiga, sei que esse comentário soa desnecessário, mas não, ele não é… Não quando em um momento desses a única coisa que me vinha em mente era o questionamento, eu não estava lá… Apesar de tudo, foi um dia feliz, não é? Não sei.
O que é felicidade? Como sei que estou realmente feliz? Esses sentimentos que fugiram, provavelmente para um homem mais forte, mais rico e mais bonito do que eu… Eles realmente estiveram em meu corpo por todo esse tempo?
Eu supri uma necessidade, eu satisfiz um desejo apenas, não era felicidade, era satisfação, e para ela também, não passava disso, a questão é… Por que eu tenho consciência dessa morte interior? Por que para ela, aquilo é vida? E o que me garante que talvez ela seja apenas isso?
Só existe uma resposta: “Nenhuma das perguntas anteriores jamais serão respondidas, assim como as próximas.” Eu posso apenas afirmar algo, esse meu novo eu, talvez nem novo, talvez um velho e escuso “Eu” dentro de mim, ele aceita a ilusão, a superficialidade das coisas, a ignorância e a frieza… E muito provavelmente, esta ilusão que vivo, algum dia se torne realidade, para que assim, a minha vida vazia, pareça cheia e significante pelo menos para um único ser desse mundo, eu.

Yoñlu

Estou fraco, um pouco dopado… E as palavras não surgem, eu peço por socorro, mudo, cego e surdo, minha rasa existência evaporou há muito… Escrever dói… Não no peito, nem nas costas, mas no coração, eu sangro palavras, eu morro em frases, eu vivo em minha morte.
Não é preguiça, é tortura… E se eu pudesse falar algo para o mundo agora seria isso:

https://www.youtube.com/watch?v=xbzNDss1UZQ

Pesquisem a história do garoto, entendam a minha dor perante seus olhos, não tenho forças para continuar escrevendo sobre, o mundo está girando, estou tonto, caindo com meu corpo desgraçado, morto por dentro e logo por fora.

Somos todos cachorros

Eu achei que fosse uma pessoa forte… Eu fui… Não fisicamente, claro, não esta vareta que anda e fala que eu sou. Mas eu não tenho mais tanta certeza quanto a isso, não minha estatura física, minha força interior.
Tem sido péssimo, horrível e está tão ruim que nem mesmo tenho paciência para buscar por outros sinônimos para dar ênfase nisso.

Uma coisa na qual estive pensando:
Na vida nós somos aquele cachorro correndo atrás do carro na rua, corremos sem nenhum motivo, continuamos correndo achando que vamos conquistar algo quando alcança-lo, traçamos esse simples objetivo e nos empenhamos nele e assim como o cão, não sabemos o que fazer assim que o atingimos. Não fica claro que faria mais sentido ficar em casa, comendo sua ração, dormindo em sua casinha de madeira? Não se você for um humano, seria no mínimo estranho. O que tinha de tão especial naquele carro? Ele tinha tração nas quatro rodas? Quem diabos estava dirigindo aquela merda? E qual é a moral da história?
Bem, não corra atrás de carros e arrume um emprego.

Eu já disse que estou péssimo?
Antes eu chorava de dez em dez minutos, agora eu penso em suicídio. Não é tão ruim assim, eu poderia estar pensando em ir socializar em uma festa, ficar bêbado e terminar a noite com uma garrafa de cachaça em minha mão direita e uma mulher com cinquenta vezes o meu peso na esquerda. Não estou tão mal assim… Bem… Acho que é isso, só não queria deixar o dia passar sem ter escrito um desses textos que tenho escrito ultimamente. Vou me banhar daqui a pouco, talvez eu tente me afogar no banheiro, quem sabe? Bem, se esse for o caso só tenho certeza de uma única coisa, estarei cheiroso em meu velório.

A vida é uma prostituta

Estava andando hoje na rua, desajeitado e pensativo como sempre, gosto de observar as pessoas, gosto de estudar o ser humano, principalmente a sua mente, ver até onde pode ir a burrice humana me faz pensar o quão inteligentemente burro eu posso ser.

Uma pergunta:
“Por que algumas pessoas têm corpos mais quentes que outras?”
Resposta:
“ Porque algumas estão mais próximas do inferno do que outras”
A ironia se encontra em mim, logo eu que estou sempre fervendo.

Observar as pessoas é algo que adoro fazer, porém isso me deixa cada vez mais depressivo, apenas pelo fato das mesmas estarem com suas rotinas lotadas e corriqueiras, se movendo de lá pra cá, sem perceberem que não são obrigadas a chegarem em seus destinos, seja o emprego, o cabelereiro , a casa da amiga ou uma casa de sadomasoquismo. Digo, por que não estacionar o carro no meio da rua e sair correndo como um belo retardado para o único lugar do qual você realmente gostaria de estar?

Uma ideia para uma piada:
Um jovem esguio caminhava na rua cabisbaixo, até se deparar com um pequeno cão abandonado. Em seu auge de carência e depressão, o mesmo leva o pequeno cão para sua casa. Assim que tranca a porta de sua casa, o cão começa a falar como um humano e diz ser o próprio demônio e que logo levaria sua alma para o inferno…
– Apenas se você me der a patinha primeiro Scooby.

Sabe de uma coisa, a minha teoria sobre a vida tem se comprovado cada vez mais, dia pós dia, teoria essa na qual digo que a vida é como uma prostituta paga, ela só quer te foder da maneira mais rápida possível, para então seguir ao próximo, engraçado porém triste, irônico também quando percebo que mesmo depois de ter atingido meu ápice, a mesma continua exercendo o seu tão sujo “Trabalho” em mim, logo a vida é uma prostituta da qual morre de amores por mim e sinto muito ao dizer que não é recíproco.
Mas não é só a vida que está sofrendo com um amor platônico, eu também estou, estou apaixonado pela morte, ela me fascina, mas ela vive evitando nossos encontros…

Uma ideia para um bom filme:

Um homem cansado de sua vida superficial de pura farra resolve cometer suicídio, para isso ele resolve ir ao lugar que mais sofreu na vida, a usina onde mais fazia procrastinar do que trabalhar, sua ideia inicial: afogar-se no grande tanque de resíduos químicos. O mesmo falha em sua missão, pois naquela noite o tanque não estava completamente cheio, logo o mesmo quebra as duas pernas e acaba ficando cego pelo contato com os resíduos químicos presentes no raso tanque, a partir desse momento o homem começa a perceber a vida de uma outra maneira, percebe que a visão não é necessária para viver a vida, que a vida é sentir, é amar, é viver da maneira que for, descobre por meio disso que nunca havia realmente vivido a sua vida toda e que isso agora significava um novo começo.
Moral da história?
Compre um revolver.

Acho que já falei demais por hoje, esse é um novo formato de texto que tenho gostado de ler e estou gostando de escrever, espero que seja um formato agradável para todos vocês, vou continuar com os poemas, porém serão menos frequentes, me falta inspiração no momento e não quero escrever apenas sobre tristeza e sofrimento ( Não que eu não tenha feito isso nesse texto, a essência se mantém, porém em formatos diferentes) algo que tenho sentido deveras, enfim, espero que tenham gostado, até mais.

A dança

Não dá mais,
não dá mais,
não aguento mais,
já não quero mais,
não conte aos meus pais,
eu não acredito.

Então nada aconteceu?
Isso me surpreendeu,
isso machucou,
doeu,
até mesmo Deus sofreu,
isso se ele ainda existe.

Estou dançando com os mortos hoje meu bem,
eu sempre fui só mais um,
eu nunca fui ninguém,
hoje eu me comunico,
comunico do além,
os mortos soltam sorrisos,
estou sorrindo também,
e você não fez nada porque lhe convém,
eu não acredito nisso.

É um local congelante aqui e nada vai me confortar,
no local onde estou não existem braços para abraçar,
e ninguém pode me alcançar,
sou parte da dança então vou dançar,
agora já não adianta chorar,
vou voar,
vou voar,
então ninguém vai me encontrar,
nunca mais me acariciar,
nunca mais me ouvir falar,
nunca mais me ouvir reclamar,
nunca mais me ver brincar,
e os mortos querem se balançar,
não dá mais,
eu não acredito.

‘’ Chore,
chore menino,
ninguém vai te escutar,
ninguém realmente te ama,
a vida já não é seu lugar,
chore,
chore menino,
você não é diferente de ninguém,
todos os outros meninos que conheceu,
foram iguais a você também,
chore,
chore menino,
você sabe que ninguém te ama,
pegue logo esta lamina,
e o faça em sua cama,
então chore,
chore menino,
ninguém vai te escutar,
a dança dos mortos é hoje menino,
então venha logo dançar,
chore,
chore menino,
todo mundo já entendeu,
você é só mais um no mundo,
um no mundo que morreu.’’

Não,
eu não sou ninguém,
muito menos alguém para alguém,
também,
é um fim trágico meu bem,
eu sei,
é o fim,
hoje eu danço com a morte,
escutem meu réquiem.

Suicídio

Limpe suas lágrimas,
segure minhas mãos enquanto eu grito,
lágrimas não caem de olhares vazios,
não há nada mais para sair aqui de dentro,
não se preocupe, não irei chorar,
coloque as mãos sobre suas orelhas,
não escute os meus berros,
minha dor física é ilusória…

Eu senti uma vez,
parecera duas,
uma mais forte que a outra,
então fique do meu lado,
neste suicídio ingênuo,
que a vida me proporcionou.

Feche a porta por favor,
ninguém merece ver isso,
não quero que meu irmão veja,
somente aqueles que não são inocentes,
apenas os culpados.

Segure firme agora,
está doendo mais e mais,
mas não mais do que a vida,
não mais do que o amor.

Eu queria mesmo  ter nascido há mil anos atrás,
Eu sim.. Eu que queria ter navegado pelos mares mais escuros,
em um grande barco à vela,
indo desta terra aqui para aquela,
em uma roupa de marinheiro e chapéu.

Triste pensar assim,
seria esse realmente o fim?
Globos de luzes,
refletem minha ilusão,
o que foi tudo isso?
Essa minha vida…
Este curto tempo de ilusão e confusão,
é apenas um beijo de boa noite,
foi apenas um beijo de boa noite,
adeus.

Bem… Hoje foi um daqueles dias de acordar, se olhar no espelho e se perguntar: “-O que caralhos eu me tornei .‘’ De repensar toda a vida e se perguntar se vale mais a pena continuar vivo… Estava marcado, era isso… Fim. ‘’Meus pais irão viajar amanhã’’ eu disse, é o cenário perfeito, ninguém para me socorrer. Mas aconteceu algo…

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Sempre acontece algo….

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Foi um…

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” Apenas escreva, Cauã…”

Felicidade

Aqui estou novamente, quebrado… Sinto meu corpo anestesiado pelo álcool novamente, os dias, eles passam despercebidos por mim, como aqueles velhos amigos que passam caminhando do outro lado da rua.
A vida tem me servido com angústia, como violinos distorcidos e mal afinados harmonizando com a confusão, o barulho e a melancolia, logo não serei o único a ouvir essa sinfonia, poie eles estão vindo para me fazer companhia, os pensamentos partidos, os fatos rasgados da minha pele frágil, a violência… Sinto arder dentro de mim, como as chamas do inferno que me aquecem nas noites que me perco entre a penumbra da minha velha casa e a completa escuridão que reside dentro de mim.
Mas existe algo nessa sinfonia, algo novo, algo que eu nunca tive antes… Raiva, ódio… São as notas mais graves, equidistantes entre a lucidez e a completa loucura. Penso na mistura da ficção e realidade, mas para mim a ficção nunca existiu. Olhe para mim, banhado de sangue, olhando no espelho, esperando por algo que nunca irá acontecer, esperando que o sangue no meu corpo acabe, que meu corpo esfrie e que eu morra. Um soco no espelho… Estilhaços por todo banheiro se misturam com o sangue que pintara o chão á alguns minutos.
A falta de dor… A falta de sentimentos, estou morto eu penso, estou morto… Mas não, eu estou melhor do que morto, pois ainda sei que falta pouco para ficar ainda pior. Os cães do purgatório me morderam, eles têm sangue nos dentes e olhos vermelhos, além do ódio no coração que um dia foi um coração normal, pulsante e cheio de sentimentos. Estou infectado, estou me tornando um deles, minhas lágrimas matam pessoas, minhas palavras também, logo eu serei um assassino, um demente, um louco, um perfeito demônio, porque agora eu sou tudo aquilo que eu temia, eu sou tudo o que não existe, mas existo para provar minha inexistência… Mas aqui estou novamente.