Uma crônica

Acabei de chegar em casa, fiz uma pequena caminhada, aquelas que sempre me deixam na expectativa de que tudo vai melhorar quando eu chegar em casa, que vou colidir com o espaço tempo e me encontrar em uma linha do tempo alternativa, onde tudo está dando certo, não foi dessa vez… Estou um pouco tonto ainda, após dois dias na cama me dei a tarefa de sair de casa, logo, voltei com as caminhadas.
Hoje foi diferente, meu pai saiu de casa, minha mãe estava no quarto usando o computador esquecendo do mundo, meu irmão estava dormindo, estava praticamente sozinho em casa e isso é algo que não quero para mim. Peguei meu caderninho, minha caneta e meus fones, sai andando por ai, sem destino… Pensei em me perder na cidade, adormecer na rua, mas eu não faria isso em sã consciência, resolvi fazer algo que jurei não fazer para mim mesmo outra vez, perder o controle do meu próprio corpo.
Eu achei que iria me perder, mas notei que de qualquer maneira eu iria saber voltar para casa… Estava zonzo, quase desmaiando de sono, faz tempo que não durmo… Encontrei um homem que dizia ter me conhecido dês de pequeno, disse que eu era gordinho e baixinho, com grandes bochechas e olhinhos pequenos… Ele disse:
– Você mudou… O que está acontecendo com você? Você não era assim… Você costumava estar presente nos lugares que você ia…
– Você não me conhece! E eu também não te conheço…
Eu conhecia aquela voz de algum lugar, mas a tontura e dor de cabeça dos remédios que tomei na ultima quinta se misturaram com a confusão e todo o mal que reside dentro de duas doses de 51, eu não poderia reconhecê-lo.
– Eu conheço sim, você é um artista talentoso que não se dá valor, é um homem sentimental e fraco demais para combater a vida, é um idiota depressivo cheio de segredos, nada mais do que isso.
– Parece que você me conhece mesmo, por favor, só me deixe em paz e não conte nada para os meus pais.
– Relaxa, não vou contar nada para eles.
Sua mão se estendeu, senti seu toque, um toque familiar e acolhedor, de uma alma que eu já conhecia, segurou minha mão esquerda e com a sua direita apoiou em meu ombro direito, como um velho amigo ajudando o outro amigo embriagado.
– Sua mãe não se orgulharia de te ver assim –Disse com o que parecia ser um sorriso irônico, ou pelo menos o que eu conseguia ver.
Olhei para os seus olhos da maneira que pude e disse:
– Eu sei pai…
Então dei meia volta e voltei para casa seguindo minhas próprias lágrimas caídas no chão.

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